A Casa do Santo e o Santo de Casa

O culto aos santos ganhou entre os católicos o seu grande espaço de manifestação. Visitas às igrejas, promessas, orações, folhetos, consumo de velas, missas em ação de graças, festas, procissões, romarias e um sem-número de rituais expressam a fé de seus devotos e demonstram a força carismática dos santos, capaz de mobilizar grande número de fiéis e de recursos. São Judas Tadeu, santo das causas perdidas, encontrou no Brasil milhares de devotos. É o terceiro santo mais cultuado entre nós. O estudo que Rodolfo Guttilla analisa e desvenda as relações entre o catolicismo popular e o institucional. Seu estudo, pautado em pesquisa extensa e apoiado em estudos antropológicos consagrados, é oportuno e de grande significado – traz-nos subsídios para a compreensão do sentido mais profundo que as devoções populares têm entre nós e do papel que os fiéis desempenham na dinâmica da fé.

Tal como o miraculoso santo — o nosso São Judas Tadeu — que este livro biografa sociologicamente com grande sensibilidade, escritura cuidada e atraente — quase sempre impecável — e com o acume teórico de mestre, esse A casa do santo & o santo de casa produz o milagre das causas perdidas. Pois realiza a conjunção inteligente da fascinante história devocional de São Judas Tadeu no Brasil, sem esquecer as vicissitudes do nosso catolicismo ou a etnografia dos elos do santo com o seu povo pobre, sujeito perpétuo das causas perdidas.

Fiquei não só estimulado pelo episódio de história religiosa — essa aculturação de um santo europeu à sociedade e cultura brasileira —, mas me deleitei com a popularização, como não poderia deixar de ser, de um santo devotado às causas perdidas. Logo me vi também devoto de São Judas Tadeu, eu que sou como todo o povo brasileiro uma vítima das frustrações da vida social e testemunha da desonra com que o Brasil tem sido tratado por quantos o governam com a promessa não cumprida de torná-lo um país mais justo.

Poucas vezes li um texto tão fluente como esse que Rodolfo Witzig Guttilla produziu ao contar com rara empatia sociológica a saga desse santo tão “brasileiro” como São Judas Tadeu.”

Roberto DaMatta