
De Cabral aos protestos de junho de 2013, do Marechal Deodoro à Tropicália, de Getúlio Vargas ao Golpe de 1964: os mais variados aspectos e capítulos da vida brasileira são capturados com leveza pela poesia de Rodolfo Guttilla. Seu livro é uma jornada lírica e graciosa por nossa história. Leitores de todas as idades irão se cativar por essa mistura muito bem-feita de poesia e comentário social. Tomando de empréstimo como título a famosa frase de Macunaíma, de Mário de Andrade, o livro de Guttilla tem como principais inspirações a obra do autor modernista e os poemas de José Paulo Paes (1926-1998), que tratava de assuntos brasileiros com uma graça que influencia os autores mais jovens até hoje.
“Como todo mundo, escrevi poemas; ou melhor, descobri que podia escrevê-los e vivi meus quinze minutos de poeta. Logo entendi que a lírica não seria o meu código de comunicação. Um poeta amigo confirmou minha intuição quando sugeriu que talvez fosse melhor fazer letra de samba…
Conformei-me na prosa porque não tive o talento e o gosto que, irmanados, têm o poder de trazer à luz coisas não sabidas ou marginalmente formuladas, coisas que vivem no fundo do tempo e nas margens de um idioma — esse código feito de sons e sentidos — e que, se apossando do poeta, percorrem o território do que é dito regularmente, do que não pode ser dito livremente, do censurado e do impossível de ser dito ou do que pelo menos é assim pensado antes da presença do poeta.
É o caso desses 39 poemas que contam uma história do Brasil. Seria a história brasileira do Rodolfo Witzig Guttilla? Sim e não, pois, nessa forma de comunicação, não é a palavra o cavalo, nem a teoria é o fio da meada. É a própria narrativa que se faz a si própria e tece, nela mesma, a história recebida e transmitida pelo poeta. Foi, pelo menos, assim que me deparei com esse Brasil do Guttilla e com o Guttilla desse Brasil.”
Roberto DaMatta