Haicais tropicais

No ano em que se comemoram os 110 anos da imigração japonesa no Brasil, Haicais tropicais reúne vinte autores brasileiros e convida o leitor a conhecer o poema oriental de três versos que trata de temas como a passagem do tempo, a natureza, as estações do ano e o espírito humano. Pequeno poema de origem japonesa, o haicai chegou ao Brasil no início do século XX e aqui trilhou sua própria história. Há mais de trinta anos, o poeta e pesquisador Rodolfo Witzig Guttilla faz um brilhante trabalho arqueológico ― que inclui desde a consulta a edições raras a entrevistas com autores ― para reconstituir esse percurso e mapear nossos haicaístas. Um dos frutos dessa pesquisa é Haicais tropicais, antologia com vinte poetas brasileiros que tiveram contato com a prática ― seja criando ou traduzindo haicais ― e contribuíram para sua difusão. São nomes consagrados, como Paulo Mendes Campos, Mario Quintana e Manoel de Barros, inusitados ou pouco lembrados de nosso cânone, como Sérgio Milliet e Austen Amaro, e contemporâneos, como Alice Ruiz S e Régis Bonvicino. Muitos deles ainda estão na ativa e renovam o gênero com frescor e originalidade, provando que o poema japonês de três versos permanece atual. Com mais de uma centena de tercetos, além de uma introdução sobre o histórico do haicai e biografias dos autores selecionados, este é um convite para conhecer a tradição poética japonesa em sua melhor roupagem tropical. 

“Concisão, na poesia, é o caminho mais curto entre dois espantos. A isso também poderíamos chamar um haicai. Esse delicado exercício de acerto e brevidade, que a tradição japonesa transformou numa arte maior, deveria ser praticado por todos os escritores. Amadurecer, em literatura, é aprender a cortar.

O título deste livro — Haicais tropicais — pode ser lido como um desafio: como alcançar a máxima concisão sem trair a natureza exuberante da tropical alma brasileira? Vinte poetas, de diferentes gerações, dão essa resposta, desde nomes conhecidos, como Alice Ruiz S e Manoel de Barros, a outros mais secretos ou esquecidos, na seleção inteligente e sensível de Rodolfo Witzig Guttila.

Esta é uma leitura obrigatória para quem gosta de haicais e para quem ainda não sabe que gosta. Para poetas e não poetas. Para quem escreve e para quem quer aprender a escrever. Para todos os que procuram a surpresa e a essência da vida.”

José Eduardo Agualusa