OSSO

Osso, de Rodolfo Witzig Guttilla, é uma colagem em que versos realizados em diversos momentos e estilos são enfeixados em uma interessante estrutura dividida como um esqueleto: crânio, vértebras, sacro, tarso, falanges. A ideia é muito boa, embora essa estrutura por vezes não pareça tão integrada à semântica dos poemas, como no Poema sujo, de Ferreira Gullar, por exemplo, que fala do corpo. Mas isso não chega a comprometer a excelência do livro, dentre os mais interessantes publicados atualmente no Brasil.

“Saturno, o senhor do tempo. Reges os ossos, trilha que se vê um fio dele a pintar com maestria, quase delicadeza essa assombrosa aventura de viver agora. Logo agora, que quem nem sempre se suporta, se reporta essa perna do medral. Esse poeta suporte. E quem quer que experimente com o humor ácido de quem além de palatava controla, é provada. E está no côncavo da lúdica. E ainda estará quando formos só ossos. Porque ela, a palavra, é a verdadeira matéria do princípio. Principalmente quando chega em forma de uma poesia como essa. Bem perto do osso. Onde a carne é sempre mais gostosa.”

Alice Ruiz S.